Só num país onde a justiça não funciona é que surgem empresas de cobranças dificeis. Não pagar não é crime. Pagar anos depois não é crime. Fazer justiça pelas próprias mãos é crime. Quem nunca lhe apeteceu fazer justiça pelas próprias mãos, sabendo da merda de juizes e justiça que temos?
Agora a história do "roubo" do Vieira:
"Luís Filipe Vieira, gestor do futebol da
sociedade anónima desportiva (SAD) do Benfica, foi condenado por roubo. O
caso remonta a Julho de 1993, altura em que o homem todo-poderoso do
futebol da Luz foi julgado e condenado no Tribunal da Boa-Hora, em
Lisboa, pela prática de um crime de roubo. Luís Filipe Vieira foi mesmo
condenado a 20 meses de prisão. E não mostrou arrependimento pelo que
fez.
O ex-presidente do Alverca foi sentenciado juntamente com mais cinco
arguidos, que também foram condenados por roubo. Um deles apanhou, tal
como Luís Filipe Vieira, 20 meses de cadeia, e os restantes quatro foram
condenados em 18 meses.
A sorte dos seis arguidos, Luís Filipe Vieira incluído, foram as duas
leis da amnistia - uma de 1986 e a outra de 1991 -, que lhes valeram o
perdão total das penas de prisão que lhes foram aplicadas pelo colectivo
do 3.º Juízo Criminal de Lisboa. No acórdão, o juiz-presidente, Afonso
Henrique Cabral Ferreira, destaca o facto de Luís Filipe Vieira ter sido
o único que não se declarou arrependido pelo crime cometido.
Os factos remontam aos princípios de Março de 1984, altura em que José
Luís Gama, um industrial de Arganil, de 62 anos de idade, se queixou a
Luís Filipe Ferreira Vieira, na altura apenas com 35 anos e com a
profissão de comerciante, do comportamento de Adriano Varela. Trata-se
de um caso de contas que não foram honradas, relacionado com uma cessão
de quotas na TIM - Transportes Internacionais de Mercadorias, Lda.,
empresa sediada em Lisboa. Do património desta sociedade fazia parte um
camião (veículo tractor) e o respectivo semi-reboque. Tudo no valor de
4400 contos.
Em julgamento provou-se que, vendo o seu amigo José Gama agastado com a
situação, Luís Filipe Vieira instigou-o a contratar os serviços de
António Manuel Suzano como sendo a pessoa certa para lhe resolver o
problema. Luís Filipe Vieira explicou a José Gama que já havia utilizado
em tempos os serviços de António Suzano para cobrar um cheque. Em
julgamento ficou também provado que foi Luís Filipe Vieira quem fez os
contactos com o homem das cobranças difíceis, dando-lhe instruções para
forçar António Varela, tido por mau pagador, a liquidar a alegada
dívida, de milhares de contos.
Para esse efeito, traçaram um plano que consistiu em roubar os referidos
veículos a António Varela e à empresa TIM. Vieira contratou os serviços
de Suzano, e este não perdeu tempo em apresentar-se com um grupo
composto por três “amigos”: António Mourato, motorista, então com 40
anos, Albino Rosendo, de 32 anos, e Francisco Aboim. Luís Filipe Vieira e
José Gama pagaram, como acontece nos casos de cobranças difíceis, os
serviços da rapaziada musculada.
Foi no dia 28 de Março de 1984 que tudo se concretizou. Por volta das
duas horas da madrugada, e depois de terem tentado localizar o camião e o
semi-reboque em Setúbal, António Suzano e a sua equipa acabaram por
encontrá-los no parque da Alfândega de Lisboa, onde estavam guardados
pelo motorista António Casaleiro. O “quarteto” bateu na cabina do
tractor, e o motorista, que pernoitava no seu interior, abriu um pouco o
vidro lateral. Foi então que António Mourato teve a ideia de
identificar-se, tal como os seus acompanhantes, como sendo da Interpol, e
disse a Casaleiro que vinham apreender o camião e o semi-reboque.
Não satisfeitos com este anúncio, Suzano e os seus “boys” mostraram os
coldres, que não tinham qualquer arma, avisando-o de que se não
conduzisse os referidos veículos para o local que lhe seria indicado
ficaria preso. António Casaleiro, embora desconfiado, acabou por aceder
em conduzir os veículos para as instalações da Carterpneus, firma de
Moscavide de que Vieira era um dos sócios. Após ter estacionado o
camião, o quarteto revelou-se simpático: deu ao motorista dinheiro para
pagar o táxi e poder regressar a casa.
José Gama ordenou a António Mourato que os veículos fossem escondidos em
Matosinhos, acabando o camião por ser interceptado em Pombal numa
operação-stop.
No acórdão, os juízes referem, com ironia à mistura, que esta história é
“digna da sétima arte e constituiu, sem margem para dúvidas, um crime
de roubo”."
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