"Uma das criticas mais fortes que se tem feito neste período pré-eleitoral tem a ver com os números do passivo do Benfica. Na realidade, qual é o passivo neste momento?
Se falarmos no passivo consolidado, que é que interessa aos benfiquistas, existem duas vertentes: o passivo financeiro, que se situa em 237 milhões no final do último exercício, portanto muito muito abaixo dos 500 milhões falados por alguns, e o passivo não financeiro, que tem a ver com dívidas a parceiros e que se situa nos 119 milhões. Portanto, estamos a falar de um total que não chega a 400 milhões.
Elementos da lista de Rui Rangel insistem no passivo não bancário. O que é isso em concreto?
É aquilo que normalmente tem a ver com compras que se fazem e cuja parte essencial se refere a compra de jogadores. A maioria dos nossos parceiros aceita que o Benfica possa fazer esses pagamentos ao longo de determinado período.
Há alguma razão especial para o passivo ter atingido estes números?
O passivo tem estado razoavelmente estável e tem crescido em consonância com os activos. Aquilo que temos feito desde o investimento no estádio, Caixa Futebol Campus, Benfica TV... Não temos parado de investir, ainda recentemente comprámos o Campo do Bravo para a equipa B, o museu também é um investimento. Quando se fazem estes investimentos, é natural que o passivo e os activos subam. Algumas pessoas estão muito preocupadas com o passivo e ainda não ouvi ninguém falar no aumento de activos cujo valor anda sempre muito próximo do passivo. Para além disso, continuamos a apostar na capacidade do Benfica em gerar receitas. Para lhe dar uma ideia, quando Luís Filipe Vieira chegou, a facturação total do Benfica situava-se nos 42/43 milhões e, neste momento, a facturação é de 140 milhões. Trata-se de um investimento estruturado que vai tendo cada vez mais capacidade de gerar receitas. Talvez as pessoas se esqueçam (e tenho relatórios desde 1994) que o Benfica já estava com capitais próprios negativos, não tinha riqueza própria e o único caminho era recorrer ao endividamento.
Há uma ideia do valor dos activos neste momento?
Há, estão valorizados em 361 milhões, naquilo que é possível reconhecer o valor dos activos. Eu falo sempre na questão dos jogadores porque os jogadores só podem ser avaliados pelo valor pelo qual foram adquiridos deduzindo as amortizações. O Witsel estava reconhecido nos activos como um valor próximo dos 6 milhões e foi vendido por 40. Isto significa que os nossos crivos estão de acordo com as normas locais, mas não estão de acordo com o real valor de mercado.
Rui Rangel tem falado com insistência na necessidade de uma auditoria às contas do Benfica.
(interrompe) Nós somos uma empresa auditada pelas maiores empresas internacionais. O que se pode fazer agora é auditar os auditores. Porque se as contas do Benfica são controladas pela CMVM, o que podem querer é auditar os auditores e a CMVM, e essa prática desconheço.
De que forma é que a crise económica mundial influi nestes números negativos?
No ano passado continuamos a crescer e do ponto de vista de receitas da componente operacional crescemos 10%. Mas temos plena consciência de que o Benfica esta inserido num determinado conceito socioeconómico. Felizmente a maioria dos contratos que temos são de longa duração e as empresas têm estado satisfeitas e até agora nenhuma pediu qualquer tipo de renegociação de contrato. Do ponto de vista dos consumidores sentimos maior dificuldade das pessoas em pagar as quotas e os seus bilhetes, embora este jogo com o Barcelona tenha sido um dos cinco melhores jogos desde que o estádio foi inaugurado.
A SAD tem conseguido cumprir escrupulosamente as obrigações com todos os funcionários?
A SAD cumpre com todos os funcionários e nunca incumpriu, nestes nove anos, com nenhum jogador, nenhum treinador, nenhum funcionário, com parceiros financeiros ou fornecedores e nunca tivemos nenhum processo. Não há um único jogador que possa vir reclamar que p Benfica lhe ficou a dever alguma coisa.
Tem noção que essa é uma realidade pouco vista no futebol português?
Tenho noção, pois temos alguns dados relativos a outros clubes portugueses e sei que há clubes a passar dificuldades. É negativo para o sector.
Qual é o valor da marca Benfica actualmente?
Já vi estudos de 50 entidades distintas, desde superior a 100 milhões a outros que dizem que vale mais de 300 milhões. Mas tenho de reconhecer que não há sitio a que o Benfica se desloque onde não seja reconhecido, reconhecido e diria quase idolatrado. Não há nenhuma marca portuguesa que seja mais valiosa do que o Benfica.
Rui Rangel acusa a actual direcção de transformar o Benfica num entreposto de jogadores.
É verdade que hoje o Benfica tem uma política distinta daquela que era a politica relativa a jogadores há dez anos. O dr. Rui Rangel não saberá, mas uma parte significativa dos contratos que hoje existem são miúdos oriundos da nossa formação e estamos a falar de dezenas de contratos profissionais. Depois, não temos 95 jogadores, esse dado é falso.
Então quantos tem?
Não lhe vou precisar quantos são, mas é um número muito mais baixo do que esse. Uma parte significativa dos jogadores que temos são jogadores que estão emprestados, no sentido de serem valorizados e, temos vários exemplos de sucesso nesse campo como foi o caso de Fábio Coentrão. E, portanto, a política que existe é que esses jogadores são colocados no campeonato português ou no estrangeiro (como o Nelson Oliveira) e esses clubes pagam o salário do jogador na totalidade e ainda uma verba pelo empréstimo. Dentro de casa, entre equipa A, B e juniores temos 40 a 50 jogadores e os que estão emprestados não significam qualquer custo para o Benfica.
Em que mercados é que o Benfica está a apostar em termos de expansão?
Na expansão internacional a grande aposta é claramente na Lusofonia. Abrimos escolas em Angola em Moçambique, estivemos com futebol de formação em todos os PALOP e é aí que está o grande potencial de crescimento do Benfica. Dos 14 milhões de adeptos, grande parte está nestes países e tem tido um crescimento muito interessante.
Termina esta época o contrato de patrocínio com a PT. Uma multinacional como a Emirates era o sponsor ideal?
A Emirates investe no futebol 180 milhões por ano e faz este investimento nos grandes clubes de cada país. Naturalmente que a Emirates seria um parceiro comercial interessante.
A PT patrocina igualmente FC Porto e Sporting. Isso é prejudicial?
Não conheço os números de FC Porto e Sporting, mas tenho uma pequena ideia por aquilo que se ouve no mercado. Lembro que o estudo da Liga, que é isento, diz que a quantidade dos adeptos do Benfica em Portugal é igual a soma de adeptos de FC Porto e Sporting.
Por que é que ainda não se fechou o negocio do naming do estádio?
Porque ainda não conseguimos encontrar o parceiro certo, quer do ponto de vista financeiro quer da marca. Hoje em dia, com esta crise mundial, não é em Portugal que vamos encontrar um parceiro para o naming do estádio nem penso que este dossier se possa fechar a curto prazo.
O Benfica está presente em reuniões com os grandes clubes da Europa através da ECA (European Club Association). O que é que se discute aí?
Estou na componente de "marketing e comunication" e temos como objectivo encontrar dados para a indústria se continuar a desenvolver. É uma associação e clubes, mas não é por isso que não trabalha com a UEFA.
Este grupo tem mais força que o G14?
Tem maior abrangência e creio que mais força também. É ali que se encontram os grandes decisores dos clubes como Sandro Rosell (Barcelona), David Gill (Man. United) ou Jean-Michel Aulas (Lyon). É ali que nos encontramos e abrimos portas para futuros negócios.
O presidente admitiu recentemente baixar o valor das quotas, tendo em conta a recessão que atravessa o país. Esta medida será uma realidade em breve?
Esse assunto não foi ainda tratado como tal dentro de uma reunião de direcção, porque é a direcção que tem poderes para isso. Como lhe disse, com esta crise fizemos uma analise e o Benfica, como toda a sociedade, vai ter de se adaptar às novas regras do jogo, já que as pessoas têm menos dinheiro, as empresas menos capacidade de financiamento. Queremos ter o maior número de sócios e queremos continuar a ter o estádio com afluências significativas. Para isso vamos ter de baixar pregos e reduzir custos para manter o equilíbrio.
As receitas de quotização e bilheteira têm vindo a baixar?
Não, até agora não, e isso tem sido uma das boas surpresas. Mas teremos de ver o impacto a partir de Janeiro, altura em que a maioria dos sócios como eu paga a quota anual.
O objectivo dos 300 mil sócios ainda é concretizável?
Chegaremos aos 300 mil sócios, não sei exactamente quando. Há um ano e meio tive um filho que fiz sócio desde o dia que nasceu e era o 237 mil e qualquer coisa, portanto em determinado momento haverá o sócio 300 mil. Aquilo que será a nossa luta quando chegar a essa altura, é que exista a capacidade de os sócios honrarem os compromissos de quotização.
«Direitos televisivos serão decididos até final do ano»
Estamos a meses do final do contrato com a Olivedesportos para os direitos televisivos. O Benfica já decidiu o que vai fazer?
Não houve nenhuma evolução. Recebemos uma proposta, tornamo-la pública e não aceitámos por várias razões. Existem alternativas identificadas, mas não há decisões tomadas e não seria sensato tomar essa decisão antes das eleições.
Mas para quando uma decisão?
Não quero antecipar datas, até final do ano teremos de ter decisões.
Há quem pague mais que a Olivedesportos?
Sem revelar muito nos tivemos um acordo com o engenheiro Paes do Amaral em relação a uma suposta proposta que ele iria fazer e acabou por não fazer. E não existem em Portugal entidades disponíveis para apresentar um programa concorrente à Sport TV, até porque os únicos direitos televisivos que estão disponíveis de imediato, entre clubes da I Liga, são os direitos do Benfica. Se quisermos avançar para uma alternativa ou conseguimos arranjar um parceiro internacional e ainda assim a Olivedesportos terá sempre um direito de preferência para exercer, ou, como já foi falado, exploramos os direitos dentro da própria Benfica TV. A não ser que a Liga arranje outra solução, entretanto.
Portanto bastará a Olivedesportos igualar o valor?
A Olivedesportos tem direito de preferência, são condições negociadas em 2002 e que eram as condições possíveis na altura e vale a pena elucidar esse tema. Fui dos primeiros a denunciar que o valor que o Benfica recebia era extremamente baixo sem paralelo em termos internacionais. Questionei-me porque é que este acordo tinha sido assumido em 2003 mas como toda a gente sabe o contrato foi rasgado nos tempos de Vale e Azevedo, o que originou um enorme imbróglio jurídico. As pessoas que estiveram por detrás do rasgar de contrato com a Olivedesportos, na altura, deveriam pensar que isso terá custado qualquer coisa como 70 milhões de receitas que o Benfica não foi buscar, e isto tem implicações no passivo. Ouvir agora algumas pessoas que estiveram associadas a Vale e Azevedo virem falar do passivos... As pessoas deviam ter mais decoro na forma como abordam o assunto.
A maioria dos clubes europeus recebe mais de 40% do total das receitas. É possível lá chegar?
Os clubes recebem em média, 40% e o Benfica gera receitas internacionais, sem direitos televisivos, de mais de 100 milhões, portanto estaríamos a falar de um valor superior a 40 milhões.
Mas admite fechar contrato abaixo dos 40 milhões?
Nós não temos nenhuma proposta em cima da mesa. Ou essa proposta aparecerá, ou se não aparecer a alternativa é a Benfica TV.
Não acha que a renovação do contrato com a Olivedesportos iria criar mal-estar junto dos sócios? Até actuais dirigentes já se manifestaram contra.
Existem duas questões diferentes. Uma é corporativa e trata-se de uma relação que tem corrido bem com a Olivedesportos, outra é a percepção que os sócios têm em relação ao papel desempenhado pela Olivedesportos. E basta ver aquilo que é dito nas assembleias gerais onde este assunto é sempre posto em cima da mesa. Não é possível tomar uma decisão sem ter isso em consideração. Se isso nos condiciona numa eventual negociação? Não vou tão longe.
Os resultados da Benfica TV estão a corresponder às expectativas?
Estão. Sabíamos que tínhamos o problema de não ter os jogos em directo o que havia muito em termos de share. Dou-lhe um exemplo: o jogo que fizemos no Algarve, com o Betis, teve um share altíssimo, de 17 ou 18%.
Por que é que a Benfica TV não faz a cobertura das eleições?
Tomámos essa decisão em 2009 e não temos os meios de um canal generalista para fazer a cobertura total. O dr. Rui Rangel declarou que é mau sinal a Benfica TV não ter estado no lançamento da sua candidatura, mas também não esteve na de Luís Filipe Vieira. Queremos continuar de forma isenta.
«Nunca recebi um dragão de ouro»
Uma das críticas que lhe fazem frequentemente é o facto de não ser benfiquista. É verdade que torcia pelo Sporting?
Sempre defendi o Benfica com a mesma tenacidade que qualquer benfiquista defende. Estou de consciência tranquila. É interessante ouvir críticas de pessoas que se dizem benfiquistas. Eu nunca recebi um dragão de ouro, nunca fui presidente de uma casa do FC Porto no Luxemburgo, nunca fui condenado por processos fiscais a favor do Sporting e nunca tive qualquer processo por fraude fiscal. Portanto, ouvir algumas pessoas a falar de benfiquismo quando se tem por perto pessoas assim...
«Encontro muitos adeptos na rua e ninguém me diz que estou a fazer um mau trabalho ou sou lagarto (...)»
Mas essa é das maiores críticas que lhe fazem...
(interrompe) As pessoas que hoje me criticam são as mesmas pessoas que me contrataram, sabendo quais eras as minhas características profissionais e pessoais. Isso é pura demagogia. O meu trabalho avalia-se por quem cá está. Nestes nove anos, fui a mais jogos do Benfica do que essas pessoas e tenho números de quantas vezes eles vieram ao estádio. Encontro muitos adeptos na rua, convivo com eles e ninguém me diz que estou a fazer mau trabalho ou sou lagarto, sportinguista, ou qualquer outra coisa.
Acha que o cargo de presidente deveria ser remunerado?
Isso é uma questão quase pessoal. O presidente defende uma linha dura que, reconheço, é cada vez menos frequente no plano internacional.
E no plano nacional também.
Sim, também, mas não comparo o Benfica com nenhum clube nacional. O presidente do FC Porto é remunerado, o do Sporting não é mas desde José Eduardo Bettencourt que pode ser. O presidente sempre entendeu que quem está nos órgãos sociais não deve ser remunerado, porque está ao serviço do Benfica. Já nem falo do presidente que passa aqui 12 a 15 horas por dia, mas de outros como o Rui Gomes da Silva, que prejudica a vida pessoal e profissional pelo Benfica. Não me canso de elogiar estes orgãos sociais que se mantiveram coesos até ao fim e respeito a 100% a vontade do presidente e dos sócios.
«Realizamos encaixes e o jogador fica aqui»
O Benfica Stars Fund tem tido os resultados esperados?
Fazemos vendas de parte do passe dos jogadores, mas temos 15% do fundo. As operações já realizadas trouxeram resultados muito interessantes, a maioria com resultados positivos e dois ou três em linha com o que estava perspectivado. Vamos ver agora o que acontece aos outros jogadores que estão no fundo. Conseguimos encontrar uma solução inovadora em que vendemos pequenas percentagens, o que nos permite realizar encaixes e o jogador ainda fica aqui.
O valor das acções do Benfica estão muito abaixo do preço de lançamento. Faz sentido continuar na Bolsa?
É uma pergunta difícil, porque qualquer resposta que lhe desse teria de a justificar perante a CMVM, mas posso dizer-lhe que não temos qualquer intenção de retirar a Benfica SAD da Bolsa. É verdade que quem investiu 5 euros e vê hoje as acções a 50/60 cêntimos sente que é um rombo significativo, mas quem investiu na SAD não procurou dividendos, agiu mais numa perspectiva emocional. Haverá excepções como o caso do presidente e do sr. José Guilherme, porque naquela altura era fundamental investir para salvar o Benfica.
«Se não valesse a pena Jesus já não estaria cá»
O Benfica vendeu Javi Garcia e Witsel em cima do fecho do mercado. Estava obrigado a realizar receitas extraordinarias?
Nós teríamos sempre de encontrar, para este ano, formas de financiamento. Desenvolvemos um modelo diferente em que é fundamental que a equipa seja extremamente competitiva e para isto é preciso ter os melhores jogadores e isso não se faz retendo-os aqui dentro. Neste caso não era essencial vender os dois jogadores, pois tínhamos financiamento alternativo. Se do ponto de vista desportivo nos coloca um desafio, do ponto de vista financeiro deixa-nos com uma margem muito boa para 2012 e 2013.
«Há que deixar de ser hipócritas. O Benfica não pode recusar ofertas de 20, 30, ou 40 milhões»
«Daqui a 2/3 anos, haverá qualidade vinda da formação que nos levará a investir menos no mercado»
Não era possível antecipar estas vendas e garantir substitutos à altura em tempo útil?
Já vi vários treinadores dizerem que a partir do momento em que aparece uma proposta entre 20 a 30 milhões, os clubes portugueses não devem hesitar em vender. E o futebol é o momento e já houve situações em que tivemos oportunidades para vender e não vendemos, e quando apareceu uma nova proposta o jogador foi vendido por um valor mais baixo. Em termos internacionais, os clubes vão ter menos capacidade de investimento mas quando nos aparece uma proposta de 20, 30 ou 40 milhões há que deixar de ser hipócritas e dizer que o Benfica, e até o país, não se pode dar ao luxo de recusar este dinheiro. As duas situações, quer do Javi quer do Witsel, são diferentes. Para o Javi havia a percepção que podia chegar uma proposta e da parte da equipa técnica sempre houve uma mensagem de confiança em relação às alternativas que existiam. O caso do Witsel foi diferente, foi uma situação de última hora que não esperávamos, mas há que reconhecer que Jorge Jesus, quando confrontado com a situação, sempre disse que arranjaria soluções.
Os adeptos devem estar preparados para mais vendas em Janeiro?
Não creio, ainda não chegamos la, mas não precisamos de vender em Janeiro. Nessa altura acontecem apenas alguns ajustes pontuais de compras e vendas.
Mas há excepções como o caso de David Luiz, vendido em Janeiro.
Sim, mas esse é daqueles exemplos em que lhe posso dizer que perdemos a oportunidade de vender no momento certo e Janeiro não foi o momento certo. O David revelava vontade em sair e naqueles seis meses todos percebemos que tínhamos perdido o momento certo de vender.
A curto prazo o Benfica poderá voltar a fazer investimentos superiores a 30 milhões em jogadores?
Nós temos investido todos os anos verbas significativas, e esse investimento dividiu-se numa primeira fase em infraestruturas e numa segunda fase em atletas, e aí foi feito o grosso do investimento, e que não nos arrependemos. Todos os jogadores que estão a chegar do futebol de formação dão-nos garantias de poderem estar na equipa principal dentro de muito pouco tempo. As pessoas queixam-se muito de que não termos portugueses na equipa principal, mas têm de entender que este processo demora anos. Se nos lembrarmos da decisão de Vale e Azevedo em acabar com o futebol de formação, não era, de certeza, em 2003 ou 2004 que iriam surgir putos e alguns dos miúdos que estão a aparecer hoje na equipa B estão connosco há 10 anos. Isso é primeiro factor positivo: haver qualidade que nos permite pensar que dentro de 2/3 anos, com estes bons resultados, vamos ter menor necessidade de investimento. Temos também feito um excelente trabalho na prospecção liderado pelo Rui Costa, que considero ser das pessoas que mais percebe de futebol em Portugal.
Existe um tecto salarial estipulado para o plantel profissional?
Não, não existe nenhum tecto salarial. Aquilo que temos são escalões, com excepção dos jogadores que vêm da formação que têm (...) por onde podem evoluir, mas não creio que haja dois jogadores dentro do Benfica que tenham salários iguais. No entanto, é diferente comprar um jogador por 10 milhões e trazer outro a custo zero. Se o trago por 10 milhões com um contrato de cinco anos, a capacidade é limitada mas se ele vem a zero tenho mais capacidade de lhe pagar determinado salário durante os anos de contrato. Não defendo tectos salariais, o tecto principal é o da razoabilidade.
O Benfica tem vindo a descer a massa salarial?
Não, a massa salarial tem crescido muito por força de factores variáveis que são introduzidos, um que têm a ver com aquilo que se passa a nível nacional, outros com o que se passa a nível internacional. O facto de os jogadores terem conseguido chegar aos quartos-de-final da Champions fez com que se subisse ligeiramente a massa salarial.
Jorge Jesus é um dos treinadores mais bem pagos de sempre do futebol português. É um esforço financeiro que tem valido a pena?
Se não valesse a pena, Jorge Jesus já não estaria cá e está há quatro anos connosco. Não sou a pessoa mais indicada para elencar todos os méritos de Jorge Jesus, mas tudo o que conseguimos nestes três anos quer ao nível de de títulos, quer do ponto de vista de performance desportiva, quer da valorização de jogadores, merecia que alguém escrevesse a história de Jorge Jesus. É um elemento determinante na estrutura do futebol, que tem também António Carraça, Rui Costa e o presidente.
Hoje em dia para para ser treinador do Benfica a capacidade de potenciar jogadores é tão importante como a conquista de títulos?
Nós trabalhamos para os adeptos, nunca podemos esquecer para quem trabalhamos. Toda a estrutura trabalha para o sucesso desportivo. É muito interessante sermos o maior clube do Mundo, termos resultados financeiros positivos, museu, infraestruturas, mas na realidade a essência do Benfica é ganhar títulos. Portanto, tudo o que é feito nesta casa tem como ponto de referência a conquista de títulos. Já tivemos anos com 30 milhões de euros de prejuízo e as pessoas estavam contentes porque ganhámos o campeonato e outras com lucro em que as pessoas estavam claramente descontentes porque não ganhámos.
PERFIL
Nome: DOMINGOS Cunha Mota SOARES de OLIVEIRA
Nascido em Lisboa, a 4 de junho de 1960 (52 anos). Casado, 4 filhos
Licenciado em Informática e Gestão pela Universidade Paris XI em 1983
Advanced Management Program pelo Insead em 1998
1993-1984
- Analista-programador da Union Française des Banques – Locabail, em Paris
1984-1988
- Director de Organização e Informática da Locapor
1988-1992
- Director-geral da Unisoft
1992-1996
- Administrador delegado da Geslógica
1997-2000
- Country manager para Portugal da Cap Gemini
- Administrador Delegado da Cap Gemini Portugal
2000-2001
- Country Manager para Portugal na nova empresa Cap Gemini Ernst & Young
- Administrador delegado da Cap Gemini Ernst & Young Portugal
2001-2003
- CEO da Cap Gemini Ernst & Young Ibéria
- Presidente e consejero delegado da Cap Gemini Ernst & Young España
- Presidente não executivo da Cap Gemini Ernst & Young Portugal
- Administrador não executivo da Sogeti España
- Maio de 2004 até à data
- Presidente da comissão executiva do Grupo Benfica
- Administrador das seguintes empresas:
- Benfica Futebol SAD
- Benfica Estádio
- Benfica Multimédia
- Benfica SGPS
- Benfica Comercial
- Benfica Seguros
- Clínica do Benfica
- Benfica TV
- É responsável pelas seguintes áreas do Grupo Benfica
- Direcção Comercial & Marketing
- Direcção Financeira
- Futebol Formação
- Direcção Técnica e de Sistemas de Informação
- Benfica Multimédia
- Benfica TV
- Direcção de Recursos Humanos
- Organização de jogos
- Segurança"
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