quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Entrevistas (IV)


Sexta-feira, 2 de Janeiro de 2009

Entrevista de Luís Filipe Vieira



Por JOSÉ MANUEL DELGADO

LUÍS FILIPE VIEIRA, nesta entrevista que concedeu a A BOLA mostrou-se, à entrada de um ano importante para a vida do Benfica, não só porque foi campeão de Inverno e tem reais possibilidades de chegar ao título mas também porque em Outubro haverá eleições, muito confiante no projecto que já lidera há vários anos. Vieira passa em revista a vida económico/financeira do clube, as linhas mestras da estratégia encarnada, a Benfica TV e os direitos televisivos, a entrada em cena de Rui Costa, os casos de arbitragem, os Apitos, as renovações (já que não se vislumbram contratações em Janeiro) no futebol a mudança que houve nas Modalidades e deixa sempre a ideia de que, cada vez que conhece melhor o Benfica, mais admira os benfiquistas e melhor se sente junto das bases. Quanto à recandidatura, mantém tabu. Mas sempre adianta que «o Benfica é um projecto que nunca se completa», ou seja, nas entrelinhas lê-se que não dá por terminada a sua missão no clube. E tem uma resposta curiosíssima quando se lhe pergunta se tem a vida organizada em função do Benfica: «Diria, de forma contrária, que tenho a minha vida desorganizada de forma a poder passar muitas horas por dia no Benfica. Mas não digo isto com qualquer ponta de insatisfação, pelo contrário. Gosto do que faço, gosto das horas que dedico ao Benfica e gosto da forma como sinto, todos os dias, a equipa com quem trabalho motivada a continuar.»

(Pág. 3)


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LUÍS FILIPE VIEIRA «O Benfica é um projecto que nunca se completa» 

No início de 2009, que muitos vêem como 'o ano de todos os perigos' devido à crise financeira mundial, o presidente do Benfica mostra segurança nas respostas, orgulho nos projectos já concretizados e confiança naquilo que ainda está a meio caminho. E quer ser campeão nacional, «para poder dar essa satisfação aos benfiquistas»

Entrevista de JOSÉ MANUEL DELGADO

O ano de 2008 acaba com o Benfica em primeiro na Liga, algo que não acontecia há 15 anos. No entanto, não foram tempos nada fáceis, especialmente a partir do momento em que Camacho saiu...

— Cada tempo tem as suas dificuldades e 2008 não escapou à regra, mas não foram maiores que outras que enfrentámos no passado - em que tivemos de recuperar o Benfica, assumir responsabilidades alheias e, ao mesmo tempo, combater a falta de verdade desportiva que se vivia no futebol português - apenas foram diferentes. Foi um ano em que desportivamente falhámos, e isso deixa sempre marcas, mas o Benfica começa, agora, a poder, finalmente, concentrar-se apenas na vertente desportiva, e isso vai reflectir-se a curto prazo. Acabar o ano em primeiro lugar é importante, é sinal de que estamos a trabalhar melhor do que no passado, mas, como outros já disseram antes de mim, é algo simbólico e aquilo que realmente queremos é ganhar o campeonato. É em Maio que temos de chegar em primeiro!

— Os objectivos empresariais já foram alcançados, faltam os objectivos desportivos?

— O fim tem de ser sempre o de ganhar no campo, mas toda a gente sabe de onde partimos. Hoje, o Benfica é reconhecido como uma organização que, do ponto de vista empresarial e financeiro, conseguiu - com uma gestão equilibrada - alcançar as metas propostas, mas de facto, ainda não conseguimos alcançar aquilo que ambicionamos do ponto de vista desportivo. A verdade é que sempre disse que a começar por algum lado teria de ser pela vertente financeira, mas o objectivo final tem de ser o êxito desportivo. Toda a gente compreende que no estado em que encontramos o Benfica, a nossa primeira prioridade foi estabilizá-lo e retirá-lo do coma em que se encontrava. Agora sim, repito, estamos em condições de nos começar a concentrar no capítulo desportivo. Daí também o investimento que fizemos este ano!

— Teme que o esforço financeiro feito pelo Benfica em 2008/09 na equipa principal possa ser boicotado por forças externas?

— A única coisa que devemos temer é pela sucessão de erros de arbitragem que adulteram a verdade desportiva, nem sempre com a respectiva responsabilização dos seus intervenientes. O esforço que fizemos para reforçar a equipa foi planeado e pensado em função do lugar que queremos devolver ao Benfica. É um investimento que todos os sócios e adeptos merecem. Mas é evidente que nenhum esforço fica a salvo de situações como as que se viveram no jogo contra o Nacional, e nem sequer foi caso único, nem isolado. Foi apenas o último de muitos erros que já nos prejudicaram ao longo desta época. Fomos os últimos a falar de arbitragem, quisemos ficar de fora, dar o benefício da dúvida, mas pelos vistos esta atitude foi penalizadora para nós.

CARLOS XISTRA, OLEGÁRIO, LUCÍLIO...

— Em que outros casos encontrou razões de queixa?

— Toda a gente se lembra da actuação de Carlos Xistra em Guimarães, dos dois jogos de Olegário Benquerença contra o Leixões. São dois nomes que impõem ponderação séria em futuras nomeações para jogos do Benfica, sem esquecer - porque é impossível pelo que foi a sua actuação no Estádio do Bessa o ano passado - Lucílio Baptista. Resumindo, eu não diria que não são forças externas, pelo contrário, são bem conhecidas!

— Pedro Henriques reafirmou que manteria a decisão...

— Sinceramente foi aquilo que mais me impressionou. Nunca vi um árbitro dar tantas entrevistas para justificar uma decisão, quase diria que se tentou convencer a ele próprio de que tinha razão.Para mim, tudo aquilo que se passou no jogo e depois dele foi uma surpresa desagradável em face da opinião que tinha de Pedro Henriques. No entanto, espero que aquilo que sucedeu no jogo com o Nacional tenha sido um acidente de percurso. Quero manter a minha confiança na Comissão de Arbitragem presidida por Vítor Pereira.

— Pretende manter, apesar de erros de arbitragem, como com o Nacional, uma cultura de exigência e responsabilização dos jogadores do Benfica?

— Os erros de arbitragem devem ser discutidos e tratados no local próprio. A cultura de exigência que devemos reclamar dos nossos profissionais é independente de tudo o resto e não vale apenas para os jogadores da nossa equipa profissional de futebol, nem é apenas uma reclamação de agora, é de sempre. A exigência é uma regra neste clube para todo o universo de atletas e funcionários. É um enorme esforço, aquele que se nos pede, um esforço em que ninguém é dispensável, porque o ciclo económico que está para chegar vai obrigar-nos a mobilizar todas a nossas capacidades. Aquilo que eu peço hoje foi o que sempre pedi desde que cheguei ao Benfica: trabalho sem limites, dedicação enorme!

— É possível que o Benfica mantenha Suazo, por exemplo, no plantel de 2009/10?

— Infelizmente, a decisão não está apenas nas nossas mãos. O que temos é um contrato de empréstimo sem opção de compra, por exigência, então, do Inter. Mesmo que haja vontade da nossa parte, não temos autonomia em relação a essa decisão. É um jogador que tem as características profissionais e humanas que este clube procura, vamos aguardar e ver os desenvolvimentos, na certeza de que se nos for dada a oportunidade vamos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para o manter cá. Mas tenho a convicção de que não vai ser fácil.

— A continuidade de Reyes depende fundamentalmente do Benfica?

— A situação em relação ao Reyes é diferente. Já é público, o Rui Costa já o assumiu. A decisão, neste caso, é nossa. Há uma opção de compra assumida, portanto, neste caso a situação é completamente diferente da anterior, temos a capacidade de manter o atleta do nosso lado.

— O Apito Dourado e o Apito Final trouxeram algo de novo ao futebol português?

— Trouxeram, pelo menos, a denúncia de que o futebol português viveu à sombra de uma mentira durante muitos anos. Mas trouxeram mais, a certeza de que ainda há pessoas íntegras, capazes e preocupadas com a verdade, e isso é algo que devemos saudar. A nível da justiça desportiva já houve condenações. A nível da justiça comum, os processos continuam. São processos complexos, demorados, mas já percebemos todos que durante anos houve esquemas que adulteraram a verdade desportiva. É tão claro, hoje, o que se passou ao longo de anos! O mais absurdo de tudo, e que é o melhor indicador de tudo o que disse até aqui, é que a defesa de algumas pessoas está preocupada apenas na não admissão da prova em vez de, como devia, estar fundamentada na contestação da prova. A prova existe, ninguém a contesta, ninguém recusa que tenha acontecido, nem como aconteceu. Estão unicamente preocupados em impedir que possa ser usada. Já todos percebemos o que aconteceu e isso é algo que já ninguém pode apagar!

— O Benfica tentou fazer valer os direitos que entendia assistirem-lhe junto da UEFA, a propósito da condenação por tentativa de corrupção de Pinto da Costa, mas não viu o assunto resolvido em 2008/09. O seu clube vai continuar empenhado nessa luta?

— Esse sempre foi um problema da UEFA a que o Benfica respondeu quando foi chamado. Quem deve continuar empenhado na luta pela verdade desportiva deve ser a UEFA e a própria Federação Portuguesa de Futebol. Aliás, devo lembrar que os órgãos da FPF ratificaram as decisões da Comissão Disciplinar. O futebol defende-se agindo contra quem viola as regras e põe em causa a verdade desportiva. O que nos moveu foi uma questão de princípio e por isso, independentemente de sermos campeões este ano, vamo-nos manter vigilantes!

— Hoje, a chamada oposição interna, sente-se menos do que quando pegou no clube?

— Não sei, nunca tive como uma das minhas preocupações diárias medir o grau de oposição com que esta direcção contava. As críticas não me preocupam, desde que sejam construtivas e não façam mal ao clube, desde que não sejam oposição ao próprio clube. A minha preocupação está focada para outras coisas bem mais importantes. Hoje parece que tudo foi fácil, que o clube viveu sempre como vive hoje. Muitos dos que hoje reclamam, esqueceram-se do que foi a herança que tivemos de assumir e do que isso significou em termos estruturais. O Benfica correu o risco de desaparecer. Muitos daqueles que no passado só se aproveitaram do Benfica, que se conformaram com a gestão de Vale e Azevedo, que nunca se atreveram a questionar o caminho que estava a ser seguido pelo clube, são aqueles que hoje se limitam a criticar. Criticam com um único intuito: fazer regressar o clube ao tempo da anarquia e da instabilidade. Não têm uma ideia, um projecto, apenas uma vontade: voltar a ter protagonismo.

AS RELAÇÕES COM O 'NOVO' RUI COSTA

— A entrada em cena de Rui Costa como director desportivo e administrador da SAD tem correspondido às expectativas que nele depositava?

— Sem dúvida. O Rui faz parte do passado e do presente deste clube e representa, ao mesmo tempo, o seu futuro. Conheço-lhe, como poucos, as suas qualidades. Sei da competência, do querer e do empenho que põe em tudo o que faz. O Rui Costa é a nossa melhor garantia de um projecto desportivo sustentado e integrado.

— Como são as suas relações diárias com Rui Costa, que informações partilham, que impressões trocam?

— Como devem ser. Falamos de tudo, partilhamos tudo, do futebol e da administração, mas ele sabe que tem autonomia. E essa autonomia vem da confiança que todos temos no seu trabalho. Foi por isso que esperei por ele, e o trabalho realizado até agora é a melhor garantia de que há um projecto!

— Quique tem bom ambiente entre os adeptos. Isso ajuda a manter em alta o apoio à equipa?

— Os adeptos perceberam o que está em causa. Têm sido insuperáveis no apoio que têm dado à equipa. Tenho a certeza de que esse apoio se vai manter, porque é uma parte fundamental deste projecto. Sem o apoio dos adeptos não faz sentido todo este trabalho!

— São de esperar reforços no Benfica durante em Janeiro?

— Não, isso não está nas nossas cogitações. A SAD entende que o plantel é suficiente para que os objectivos sejam alcançados.


As recomendações dos médicos 

O presidente do Benfica garante que não lhe «falta energia para as batalhas de 2009» ironizando que «apenas aquilo que me falta é autorização médica, porque ando com a tensão muito alta, para assistir aos jogos do Benfica, ao vivo ou na TV.» Assim se explica a ausência de Luís Filipe Vieira (que há um ano esteve internado com uma pneumonia, mal completamente debelada) dos últimos jogos dos encarnados. Vieira fez questão de elucidar que «esta situação deverá manter-se ainda durante mais algum tempo.»

No entanto, o líder encarnado deixou a pedagogia de lado e não escondeu o bichinho que o ataca cada vez que o Benfica actua, abrindo outra possibilidade para ver as partidas do actual comandante da Liga: «Bom, não vou aos jogos, pelo menos enquanto não me decidir a ignorar as recomendações médicas...!»

«Não nos queixamos de falta de militância» 

Luís Filipe Vieira tem-se desdobrado, dentro e fora das fronteiras pátrias, em encontros com a nação encarnada. No início do primeiro mandato, em 2003, Vieira era tímido nessas manifestações. Hoje, não esconde o prazer enorme que sente no contacto directo com as bases.

«Este ano» diz o presidente encarnado, «os sócios e simpatizantes têm sido de uma dedicação total, têm apoiado a equipa, têm sabido estar presentes nos momentos bons, mas principalmente nos momentos menos bons, e isso temos de o saber destacar.» Feito o elogio - aliás confirmado pelas estatísticas de assistências aos jogos da Liga de Clubes, onde a média caseira é de 43 mil espectadores - Luís Filipe Vieira fez questão de afirmar que, «o Benfica, ao contrário de outros clubes, não se queixa de falta de militância!»

(Pág.4 e 5)


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«Rui Costa faz parte do passado e do presente e representa o futuro»

— Tem feito da verdade desportiva um dos pontos fortes do seu discurso. Sente que esta época há sinais de mudança positiva, ou, na prática, pouco mudou?

— Quero acreditar que algo mudou, mas a prática leva-me a ser prudente nesse capítulo. Espero que os agentes desportivos não percam a oportunidade que foi dada pela justiça desportiva para cortar com o passado. Seria demasiado grave para todos se assim não fosse!

O BENFICA E A CRISE FINANCEIRA MUNDIAL

— O actual quadro competitivo no futebol profissional está à altura das expectativas do Benfica?

— É público que o Benfica está interessado em melhorá-lo, mas como fez até aqui, as propostas serão sempre apresentadas dentro da Liga, aos seus órgãos e dirigentes. Em todo o caso posso adiantar que o Benfica está disponível a ajudar a Liga a fazer investimentos no capítulo da arbitragem, seja em meios tecnológicos, seja na profissionalização. Não temos preferência em relação a nenhum deles, estamos disponíveis para ajudar desde que daí resultem melhorias significativas para a arbitragem portuguesa.

— Há condições, no seio da Liga, de promover alterações que não só moralizem o futebol, mas também ajudem a criar riqueza, evitando a praga dos salários em atraso que aflige muitos clubes ditos profissionais?

— Creio que neste momento há condições e vontade de trabalhar no sentido de moralizar o futebol e obter mais receitas. É evidente que - a nível económico - o que aí vem vai obrigar a Liga a redobrar esforços, mas com uma estratégia concertada e as opções certas penso ser possível superar as dificuldades que se adivinham. Do Benfica podem esperar total cooperação. Mas denunciaremos sempre os jogos de poder que se instalam em algumas Assembleias Gerais, como aqueles que se viveram quando recenetemente se discitiam propostas para alteração do Regulamento Desportivo.

— A crise financeira mundial afectou muitas instituições bancárias. Esse facto teve reflexo no dia-a-dia do Benfica?

— Não, pelo menos para já. Mas o Benfica não é uma 'ilha' e é natural que as restrições ao crédito bancário que estão a afectar a economia também se façam sentir neste sector. Antecipando esse tipo de problemas iniciámos já uma diversificação das fontes de financiamento, em particular com a emissão de Papel Comercial que terá lugar durante Janeiro.

SEM DECISÃO OFICIAL DE RECANDIDATURA

— Qual foi a evolução da situação financeira do Benfica ao longo de 2008?

— Este é um ano de forte investimento e por isso não são de esperar resultados financeiros em linha com as últimas épocas.

Comparativamente a 2007/2008, as contas serão afectadas por dois factores. O primeiro e o mais relevante pelo seu impacto, o facto do Benfica não ter alienado o passe de qualquer um dos seus jogadores mais importantes e teve oportunidade para o fazer. O segundo, de menor expressão, a saída prematura das competições europeias. Mas neste caso, acredito que compensaremos o diferencial com uma melhor performance na Liga.

— 2009 é ano de eleições no Benfica. Vai recandidatar-se?

— Ainda faltam alguns meses até lá e muito trabalho pela frente. Não quero dizer ainda nada a esse respeito, devemos viver um dia de cada vez. No tempo certo farei a minha avaliação e tomarei uma decisão, sendo certo que a minha família - a grande prejudicada durante todos estes anos - terá uma palavra importante a dizer.

— É um cenário plausível que a questão dos direitos televisivos venha a influenciar, até com a chegada de outros candidatos, as eleições?

— Não creio, isso seria admitir que há benfiquistas que estariam interessados em candidatar-se, não porque tivessem um projecto para o Benfica, mas apenas para serem 'testas de ferro' de determinados grupos, e isso eu recuso-me a acreditar que seja possível. É demasiado mesquinho!

— O que está, em seu entender, ainda por fazer no Benfica, depois do saneamento financeiro, do novo Estádio, do Centro de Estágio e Treinos do Seixal e da Benfica TV?

— O Benfica é um projecto que nunca se completa, haverá sempre novas metas por cumprir. O que fizemos até aqui foi um trabalho de recuperação do Clube, a nível das suas infra-estruturas, a nível da sua credibilidade, a nível da sua organização. Isso foi feito, agora temos de nos preocupar em voltar a implementar uma dinâmica vencedora no domínio desportivo.

— O Benfica continua a representar uma substancial fatia do mercado nacional. Até onde pode crescer, o que está a ser feito nesse âmbito?

— Não queremos ser como os outros, queremos continuar a crescer e há apenas uma estratégia: valorizar as pessoas, porque verdadeiramente são elas o motor do Benfica. Não são as acções em bolsa, a SAD, ou os activos, o importante são os benfiquistas, são a única coisa que verdadeiramente é insubstituível! Por isso é que eles estão sempre no centro das nossas preocupações! Vamos continuar a inovar a nível de novos produtos que possam cativar mais sócios, que façam as pessoas aproximar-se do Clube. O Kit de sócio, os parceiros associados, todas as campanhas promocionais, e todo um conjunto de empresas que vão desde a área da saúde, às telecomunicações e viagens. É por aqui que passa o Benfica.

— Como vai ser a expansão e fundamentalmente a solidificação da marca Benfica nos países de expressão portuguesa?

— É um mercado em que devemos apostar fortemente. Estamos ligados a eles pela língua, pela cultura, pelos afectos mas também pelos muitos jogadores desses países que ajudaram a construir a memória do Benfica. Pessoalmente, acredito nas virtudes das relações de proximidade, nos contactos directos, no intercâmbio de experiências. Aliás, a digressão que fizemos no ano passado, é a melhor prova do que acabo de dizer. Temos de voltar com regularidade a esses países, porque eles também fazem parte da nossa história.

— Gosta de ser presidente do Benfica, é-lhe confortável andar de Casa em Casa, junto das bases?

— A coisa que mais me agrada é o contacto directo com os benfiquistas. Sempre procurei ser um presidente próximo de todos, porque sei que a verdadeira força no clube está nas bases, está nas pessoas. Quando aqui cheguei assumi o desafio numa perspectiva de missão, mas nunca irei reclamar que salvei o Benfica, nunca o ouvirão da minha boca. Fomos todos que conseguimos trazer o Clube até aqui, servi apenas como um farol que conseguiu alertar e congregar os sócios à volta Clube. Mas também é verdade - como tenho repetido nas Casas que visito - que os sócios - que conseguiram fazer recuperar o Benfica - têm de manter o mesmo nível participação na vida do Clube, que tiveram nos momentos mais críticos. Quaisquer que sejam as decisões que importa tomar, elas devem ser partilhadas e sufragadas pelo maior número de sócios possível em cada momento, porque só assim se pode reforçar o Clube e ambicionar o seu crescimento. O Benfica será tanto maior quanto maior for a participação dos seus associados na partilha das opções que devem ser tomadas.

DA VIDA PESSOAL, AO 'DESASTRE' DE ATENAS

— Tem a vida organizada de forma a continuar a dedicar várias horas diárias ao clube?

— Diria de forma contrária, tenho a minha vida desorganizada de forma a poder passar muitas horas por dia no Benfica. Mas não digo isto com qualquer ponta de insatisfação, pelo contrário. Gosto do que faço, das horas que dedico ao Benfica e da forma como sinto, todos os dias, a equipa com quem trabalho motivada a continuar. Nos últimos anos temos conseguido antecipar problemas e desenhar as respectivas soluções. É esta mentalidade que nos vai permitir continuar a crescer.

— Sinceramente, acredita que o Benfica, que tem sido tão irregular exibicionalmente, tem condições para chegar ao título nacional?

— Creio que temos todas as condições para lutar pelo título.

— O que disse a jogadores e técnicos depois do «desastre» de Atenas?

— Que quando acreditamos no trabalho que está a ser desenvolvido, temos de manter o rumo, independentemente de alguns acidentes que possam acontecer.
Que quando acreditamos no trabalho que está a ser desenvolvido devemos levantar a cabeça e manter o rumo.

— Que votos gostaria de formular para 2009?

— Para o ano que agora começa gostaria de poder oferecer a todos os benfiquistas o título de campeão nacional. Sei que a equipa está empenhada de alma e coração nesse grande objectivo. Espero que nos deixem ganhar a Liga dentro de campo! Fora de campo, nunca, como outros já fizeram


«Defenderei intransigentemente o justo valor dos nossos jogos » 

A Benfica TV é, por si só, um terramoto no meio audiovisual do desporto em Portugal. Uma
aposta de que Vieira se orgulha

— Pode falar-se da Benfica TV como uma revolução não só nos clubes mas também no audiovisual?

— Sem dúvida. Por um lado a Benfica TV é um projecto estruturante para o clube, um instrumento que vai mudar a maneira como comunicamos com sócios e adeptos. Mas se é verdade que seguimos o caminho já percorrido por alguns clubes europeus, mesmo assim conseguimos inovar: o canal vai emitir 24 horas, sem necessidade de subscrição e numa lógica de abertura a toda a vida do clube e não apenas ao futebol. Por outro lado, a nível do audiovisual vai permitir-nos defender melhor o valor dos nossos direitos televisivos.

— Que esperanças deposita realmente no desenvolvimento do canal?

— Todas. De dia para dia sente-se que o canal está a crescer. Como qualquer projecto desta dimensão, há sempre aspectos a corrigir e a melhorar na sua fase de arranque, mas sinto que a Benfica TV é uma realidade com um grande peso e cuja existência, repito, vai ser fundamental para a defesa dos nossos direitos.

— A tendência, com o advento da Benfica TV, será de não renovar com a Olivedesportos e a partir de 2013 ter todos os jogos do clube no canal «da casa»?

— A tendência será a de defender de forma intransigente os direitos do Benfica e o justo valor dos nossos jogos. Toda a gente sabe em que condições o presente contrato foi assinado, em Maio de 2003 e o valor que recebemos. Mas toda a gente sabe a diferença a nível de audiências que os nossos jogos têm em relação aos demais. Não se podem tratar de forma igual realidades diferentes. Isso tem de acabar. Há várias maneiras de o fazer, veremos na altura própria o caminho que vamos seguir!

«Modalidades? Gestão rigorosa, máximo empenho» 

A mudança nas Modalidades do Benfica é vista por Luís Filipe Vieira como tendo origem em «decisões pouco rigorosas, mas convenientes em função do protagonismo mediático que algumas pessoas podem obter, mas que do ponto de vista da gestão se revelam profundamente erradas.»

Quanto às opções a tomar, Vieira diz que o Benfica tinha «dois caminhos, manter o rumo que levava e possivelmente, hoje, já teria sido obrigado a fechar algumas das Modalidades ou alterar o rumo e conseguir combinar uma gestão orçamental rigorosa com a exigência de máximo desempenho desportivo. Foi isso que foi feito e é para aí que devemos apontar.»

Para o presidente dos encarnados «temos sempre uma estranha tendência para discutir mais o curto prazo do que o médio e o longo prazo», esclarecendo que «quando o problema se levantou, a primeira coisa que fiz foi reunir com todos os treinadores e seccionistas das Modalidades, pedi-lhes apoio para que trabalhássemos em conjunto. Devo dizer que foram inexcedíveis.»

Acabou por ser uma das figuras emblemáticas do Benfica, Carlos Lisboa a assumir responsabilidades na área. Luís Filipe Vieira garante que teve, «não só do Director-Geral, Carlos Lisboa, mas de todos os seccionistas e treinadores a compreensão e apoio necessários. Todos entendem o problema e as suas implicações no futuro e todos partilham da solução.»

Claques, gente boa, gente má 

O Benfica em nada alterará a política que tem seguido com as claques. «Faremos como até aqui», diz o presidente, «sabendo que o seu apoio é importante para a equipa e da grande vontade que tem em transmitir esse apoio. Mas enquanto não preenchermos requisitos legais que são exigidos, não os podemos reconhecer enquanto tal!»

Há poucas semanas, membros dos No Name Boys foram presos por actividades que eram tudo menos futebol, como A BOLA titulou. Luís Filipe Vieira, a propósito dessse caso, afirmou que o seu «único desconforto» foi «ter assistido a uma tentativa de confundir o futebol do Benfica com práticas que nada têm a ver com futebol. Há gente boa e má em todo o lado e é bom que as pessoas percebam isso!»

Também houve, em 2008, alguns momentos tensos em Assembleias Gerais, imputados às franjas mais radicais dos No Name Boys.

Vieira desdramatiza, afirmando que, para ele, «os únicos momentos complicados são quando o Benfica não ganha ou quando os golos são mal invalidados, não são as Assembleias Gerais com os sócios.»

(Pág. 6 e 7)

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