sábado, 18 de agosto de 2012

Vergonha é roubar?

Só num país onde a justiça não funciona é que surgem empresas de cobranças dificeis. Não pagar não é crime. Pagar anos depois não é crime. Fazer justiça pelas próprias mãos é crime. Quem nunca lhe apeteceu fazer justiça pelas próprias mãos, sabendo da merda de juizes e justiça que temos?


Agora a história do "roubo" do Vieira:

"Luís Filipe Vieira, gestor do futebol da sociedade anónima desportiva (SAD) do Benfica, foi condenado por roubo. O caso remonta a Julho de 1993, altura em que o homem todo-poderoso do futebol da Luz foi julgado e condenado no Tribunal da Boa-Hora, em Lisboa, pela prática de um crime de roubo. Luís Filipe Vieira foi mesmo condenado a 20 meses de prisão. E não mostrou arrependimento pelo que fez.

O ex-presidente do Alverca foi sentenciado juntamente com mais cinco arguidos, que também foram condenados por roubo. Um deles apanhou, tal como Luís Filipe Vieira, 20 meses de cadeia, e os restantes quatro foram condenados em 18 meses. A sorte dos seis arguidos, Luís Filipe Vieira incluído, foram as duas leis da amnistia - uma de 1986 e a outra de 1991 -, que lhes valeram o perdão total das penas de prisão que lhes foram aplicadas pelo colectivo do 3.º Juízo Criminal de Lisboa. No acórdão, o juiz-presidente, Afonso Henrique Cabral Ferreira, destaca o facto de Luís Filipe Vieira ter sido o único que não se declarou arrependido pelo crime cometido.

Os factos remontam aos princípios de Março de 1984, altura em que José Luís Gama, um industrial de Arganil, de 62 anos de idade, se queixou a Luís Filipe Ferreira Vieira, na altura apenas com 35 anos e com a profissão de comerciante, do comportamento de Adriano Varela. Trata-se de um caso de contas que não foram honradas, relacionado com uma cessão de quotas na TIM - Transportes Internacionais de Mercadorias, Lda., empresa sediada em Lisboa. Do património desta sociedade fazia parte um camião (veículo tractor) e o respectivo semi-reboque. Tudo no valor de 4400 contos.

Em julgamento provou-se que, vendo o seu amigo José Gama agastado com a situação, Luís Filipe Vieira instigou-o a contratar os serviços de António Manuel Suzano como sendo a pessoa certa para lhe resolver o problema. Luís Filipe Vieira explicou a José Gama que já havia utilizado em tempos os serviços de António Suzano para cobrar um cheque. Em julgamento ficou também provado que foi Luís Filipe Vieira quem fez os contactos com o homem das cobranças difíceis, dando-lhe instruções para forçar António Varela, tido por mau pagador, a liquidar a alegada dívida, de milhares de contos. Para esse efeito, traçaram um plano que consistiu em roubar os referidos veículos a António Varela e à empresa TIM. Vieira contratou os serviços de Suzano, e este não perdeu tempo em apresentar-se com um grupo composto por três “amigos”: António Mourato, motorista, então com 40 anos, Albino Rosendo, de 32 anos, e Francisco Aboim. Luís Filipe Vieira e José Gama pagaram, como acontece nos casos de cobranças difíceis, os serviços da rapaziada musculada.

Foi no dia 28 de Março de 1984 que tudo se concretizou. Por volta das duas horas da madrugada, e depois de terem tentado localizar o camião e o semi-reboque em Setúbal, António Suzano e a sua equipa acabaram por encontrá-los no parque da Alfândega de Lisboa, onde estavam guardados pelo motorista António Casaleiro. O “quarteto” bateu na cabina do tractor, e o motorista, que pernoitava no seu interior, abriu um pouco o vidro lateral. Foi então que António Mourato teve a ideia de identificar-se, tal como os seus acompanhantes, como sendo da Interpol, e disse a Casaleiro que vinham apreender o camião e o semi-reboque.

Não satisfeitos com este anúncio, Suzano e os seus “boys” mostraram os coldres, que não tinham qualquer arma, avisando-o de que se não conduzisse os referidos veículos para o local que lhe seria indicado ficaria preso. António Casaleiro, embora desconfiado, acabou por aceder em conduzir os veículos para as instalações da Carterpneus, firma de Moscavide de que Vieira era um dos sócios. Após ter estacionado o camião, o quarteto revelou-se simpático: deu ao motorista dinheiro para pagar o táxi e poder regressar a casa. José Gama ordenou a António Mourato que os veículos fossem escondidos em Matosinhos, acabando o camião por ser interceptado em Pombal numa operação-stop. No acórdão, os juízes referem, com ironia à mistura, que esta história é “digna da sétima arte e constituiu, sem margem para dúvidas, um crime de roubo”."

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